...europeus alegaram temer que males como esse tornem nosso gado pouco sadio, do latim sanativus, mas é possível que tais decisões escondam também disputas de mercado.
Janota: do francês
janot, variação de
jeannot, de
Jean, João. Soaria como Joãozinho, mas um personagem de teatro criado por
Louis-François Archambault, mais conhecido como
Dorvigny (1742-1812), popularizou a palavra com o sentido de bobo, tolo, néscio, parvo. Na peça, ele se vestia de modo desjeitoso, com o fim de criticar suposta elegância da época, e falava invertendo a ordem natural das frases, por força de um distúrbio da fala. No livro
De Rebus Pluribus, de 1923, o visconde de
Santo Tirso debochou daqueles que se vestem mal achando que assim ficam elegantes.
"Quando vejo algum pretenso janota de fraque e chapéu-de-coco, penso logo num grande sacrifício para aplacar os manes do Beau Brummell", escreveu ele, referindo-se ao inglês George Bryan Brummell (1778-1840), considerado o primeiro dândi, por sua forte relação com a moda.
Palácio: do latim
Palatium, Palácio, nome da colina onde ficava a morada imperial na antiga Roma. Vieram daí as palavras palácio, designando a moradia ou sede de autoridades, e paladino, indicando aquele que tinha costumes nobres, próprios de quem vivia em palácios. Residências da família de dom
João VI (1767-1826), como o Palácio de Queluz, o Palácio de Mafra e o Palácio da Ajuda, tornaram-se atrações turísticas. A Casa de Bragança, então no poder, estava metida em brigas homéricas. Em Queluz, a 10 quilômetros de Lisboa, viviam a rainha
Maria I (1734-1816), a louca, e a princesa
Carlota Joaquina (1775-1830). Dom João, então príncipe regente, vivia em Mafra, a 40 quilômetros da capital, rodeado de padres, numa construção de 880 cômodos, que chegou a empregar 52000 homens. Neste palácio, na Sala dos Destinos, há um quadro em que dom João VI recebe Portugal das mãos do militar inglês
Arthur Wellesley (1769-1852), que se tornaria famoso por derrotar
Napoleão (1769-1821) na Batalha de Waterloo, já com o nome de
Duque de Wellington.
Sadio: do latim
sanativus, curado, saudável, sadio, de
sanatum, particípio do verbo
sanare, curar. A raiz desta palavra aponta também para o verbo saudar, cumprimentar, do latim
salutare, originalmente desejar saúde, como nas expressões
salve e ave, depois mudadas para os tradicionais cumprimentos de bom-dia, boa-tarde, boa-noite. Uma das maiores empresas de alimentos do Brasil adotou este adjetivo no feminino com função de substantivo, seu nome. É a Sadia. A empresa sofreu forte retração no mercado internacional por força da gripe aviária, que assolou o mundo em passado recente, mas em 2007 houve uma grande recuperação. Como aves e suínos são alimentados com grãos, a mesa do brasileiro e de muitos estrangeiros depende do clima e do que acontece na agricultura para que muitos matem a fome e tenham boa saúde. Para abonar o verbete sadio, o dicionário
Aurélio cita trecho do livro
Pensamentos Brasileiros, de
Vicente Licínio Cardoso (1889-1931):
"Lutero era um homem robusto e sadio. Os retratos deixados por Cranach, seu amigo, mostram-no cheio de carnes".
Varíola: do latim vulgar variola, varíola, formado a partir do radical
vari, presente em muitas outras palavras, como vários e variedade. Recebeu tal designação por força das várias manchas que se espalham sobre a pele, no caso dos humanos, e nas cristas da aves e nas tetas das vacas. As primeiras vacinas contra a varíola foram testadas em sete criminosos ingleses, no século XVIII. Cobaias voluntárias, eles aceitaram a inoculação da doença em troca da liberdade e saíram da cadeia saudáveis. O dicionário
Aulete Digital, o mais atualizado de todos, pois o faz pela Internet, disponibilizando os verbetes depois de aferidos por um corpo de especialistas, assim define a varíola:
"Doença contagiosa causada por vírus, que provoca febre, dores e lesão na pele". E dá como exemplos a varíola aviária e a varíola bovina - que, diga-se, não tem nada a ver com a perigosa varíola humana, já erradicada. Doenças do gado são responsáveis por graves prejuízos à economia brasileira, de que são exemplos as reiteradas suspensões de compra de carne bovina, feitas sobretudo pela União Européia. Embora o Brasil atenda com presteza aos pedidos de informação internacional, trabalhando sobre uma relação de 2 600 propriedades, quando são citadas só 300 fazendas rastreadas por organismos de saúde, estão por trás da interdição do Certificado Sanitário Internacional alguns países europeus, liderados pela Irlanda, que disputam o mercado mundial de carne bovina.