Cocoricó: de origem onomatopaica, designa o canto do galo. A palavra é onomatopaica quando busca reproduzir o som que designa. A ave e seu canto estão presentes na Missa do Galo, cuja origem remonta às celebrações ao deus Sol. Igrejas mais antigas têm um galo em seus campanários, como a da Irmandade de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, na Glória, e a da Ordem Terceira de São Francisco de Paula, no Largo de São Francisco, Rio de Janeiro.
Festejo: de festejar, ligado a festa, do latim festa, plural de festum, dia alegre, de celebração. Os cristãos apoderaram-se dos aparelhos de Estado pagãos, incluindo seus símbolos, palácios e designação das autoridades, e adotaram eficiente estratégia de impor as próprias festas. Assim, o Natal foi instituído em 25 de dezembro pelo imperador Constantino I (272-337), no ano 336, para que a data do nascimento de Jesus (século I) coincidisse com as festas pagãs do solstício de inverno, que homenageavam o Sol. Houve curioso sincretismo, isto é, mistura de cultos e religiões, mesma estratégia adotada pelos escravos quando, sendo obrigados aos festejos dos patrões e donos, procuravam mesclar seus deuses e ritos com os dos católicos. No antigo império romano, com o passar do tempo, o Sol foi afastado das comemorações, ficando só o Natal. O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) celebrou o Natal na crônica Organiza o Natal: "O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive. E será Natal para sempre".
Mãe-d'água: de mãe, do latim matre, declinação de mater, e água, do latim aqua. Designa ser fantástico que protege rios e lagos, como as sereias protegem os mares. É um dos nomes da deusa Iemanjá, do iorubá yemndja, de yeye, água, e mn, partícula que antecede o diminutivo para edja, peixe. Portanto, Iemanjá originalmente é a deusa dos peixinhos. Iemanjá aparece em Canto de Oxum, na voz da cantora baiana Maria Bethânia (64): "Onde ela vive?/ Onde ela mora?/ Nas águas,/ Na loca de pedra,/ Num palácio encantado,/ No fundo do mar./ O que ela gosta?/ O que ela adora?/ Perfume,/ Flor, espelho e pente/ Toda sorte de presente/ Pra ela se enfeitar". É vaidosa essa deusa, uma de suas fatais diferenças com Nossa Senhora, com quem foi misturada nos cultos, sempre humilde, ainda quando apresentada como rainha também.
Negrinho: do diminutivo de negro, do latim nigrum, declinação de niger, designando o menino filho de escravos, mais criança do que o moleque, do quimbundo muleke, garoto. Passou a designar doce feito com leite condensado e chocolate, por diversos motivos, entre os quais a alusão às crianças negras das quais as escravas tinham que cuidar enquanto faziam os quitutes e às quais davam pequenas porções para que parassem de chorar. Ganhou a variante de brigadeiro na denominação em homenagem ao brigadeiro Eduardo Gomes (1896-1981). O mais conhecido negrinho do Brasil, após o doce, é a figura lendária do folclore brasileiro, Negrinho do Pastoreio, nascida das lutas travadas pelos abolicionistas, para desfazer a impostura ideológica que dava a escravidão como mais leve no Brasil meridional. Um menino de 14 anos, e já responsável pelo pastoreio de manadas, perde um cavalo baio. O patrão lhe dá uma surra, amarrando-o depois sobre um formigueiro. Para sua surpresa, no outro dia encontra o menino são, tendo ao lado a figura da Virgem Maria, com todos os cavalos reunidos ao redor deles, até o que fugira. Arrependido, o fazendeiro prostra-se aos pés de ambos. A lenda é importante por denunciar os maus-tratos, mas ao mesmo tempo anunciar a redenção para os escravocratas arrependidos.
Repique: de repicar, do latim piccare, antecedido do prefixo "re", que designa repetição e intensidade. Designa ação de bater, como o badalo no sino, produzindo um som, como faz uma ave chamada picanço, piccus em latim, que golpeia as árvores com o bico ou para catar insetos. O repique dos sinos é dobrado na Missa do Galo. No Brasil colonial, pela batida dos sinos era possível saber se estava ocorrendo algum parto difícil, vinha temporal ou morrera alguém. E neste caso se sabia se era homem, mulher ou criança.