Etimologia

por <b>Deonísio da Silva</b>* Publicado em 03/11/2009, às 21h19

Copla: do latim copula, união, laço, ligação, pelo espanhol copla, estrofe. O étimo está presente em acoplar, por exemplo, mas cópula se tornou hegemônico para designar o ato sexual. Copla é uma pequena composição poética, normalmente em quadras, escrita para ser cantada. As clopas em geral são debochadas e satíricas. A variante cobras está presente em dizer cobras e lagartos de alguém, isto é, falar mal da pessoa em questão. Associada ao Mal, desde o mito do Paraíso, a cobra, por metáfora, passou a designar o indivíduo nocivo, chamado cobra venenosa, língua de cobra e língua venenosa. O lagarto, igualmente réptil, foi associado à obra por um processo conhecido como arredondamento binário. Assim, são ditos cobras e lagartos de alguém, não apenas cobras. Outros exemplos de arredondamento são a ferro e fogo, são e salvo, de ceca em Meca; ceca, da expressão árabe dar as-sekka, casa da moeda, e Meca, na Arábia Saudita, capital mundial da religiosidade muçulmana, aonde os fiéis têm de ir ao menos uma vez na vida. Gato-sapato: de gato, do latim cattu, e sapato, de origem controversa, chegando ao português do espanhol zapato, calçado. No italiano deu ciabatta, calçado velho, surrado. A expressão veio a designar jogo semelhante ao da cabra-cega, em que as crianças batem com o calçado nas costas de uma delas que tem os olhos vendados. Designa ainda coisa desprezível. Talvez a designação tenha nascido da imagem do cachorro com as patas sobre o gato, fazendo dele sopata, isto é, tendo-o sob a pata, depois mudado para sapato. Processo semelhante temos em sopé, sob o pé, e sopapo, sob o papo. Devoluto: do latim devolutus, desocupado, desabitado. Tomou este sentido porque o latim devolutus é originalmente particípio de devolvere, voltar, rolar de cima. Designa terras que ainda não foram incorporadas à propriedade privada e, portanto, pertencem ao Estado. Às vezes, no Brasil, mas sobretudo em Portugal, a palavra cumpre as funções de abandonado, de que é exemplo esta manchete do jornal português Diário de Notícias do dia 5 do mês passado: "A queda da fachada do primeiro andar de um prédio perto do Mercado do Bolhão, no Porto, deu-se cerca das 22:45h. Segundo informações avançadas pelo repórter, o prédio estava devoluto há 30 anos e apenas tinha estabelecimentos comerciais a funcionar no seu rés-do-chão". São a mesma língua, mas em Portugal as variações são tantas que neste simples informe encontramos também rés-do-chão designando o térreo. E, em lugar do gerúndio "funcionando", lemos "a funcionar". Shiatsu: do japonês shiatsu, com influência do chinês, palavra formada de shi, dedo, e atsu, pressão. No japonês, a palavra inteira é shiatsuryóhó. No Brasil, perdeu o último elemento de composição, ryohó, tratamento. Designa terapia apoiada em antiga prática medicinal chinesa, que consiste em pressionar os dedos sobre pontos específicos do corpo, conhecidos como referências da acupuntura, e os meridianos, tidos como canais semelhantes a veias e artérias por onde flui a energia vital. O método foi criado em 1856, no reinado do imperador Mutshuito Meiji (1852-1912), conhecido como a Era Meiji, durante o qual o país emergiu como uma das grandes potências mundiais. Até então era governado por senhores feudais conhecidos como xóguns e daimios. Seus pais foram o imperador Komei Tenno (1831-1867) e a dama de companhia Nakayama Yoshiko (1834-1907). Vigia: de vigiar, do latim vigilare, vigiar, ficar alerta, não dormir. A origem remota é a raiz indoeuropeia "weg", vigor. Tornou-se palavra hegemônica sobre as variantes sentinela e atalaia, a primeira do italiano sentinella, radicada no verbo sentir, e a outra no árabe attalaia, plural de talaia, lugar alto, de onde se pode vigiar o inimigo. Yacuza: do japonês yakuza, organização criminosa japonesa, semelhante à Máfia italiana pelos métodos e pela disciplina. Designa a Máfia japonesa, formada de ya, 8; ku, 9; e za, 3. Esses números compõem a sequência de um jogo de azar popular no Japão. Os dicionários Aurélio e Michaelis ainda não a registram, mas outros já, como o Houaiss, além de gramáticos e professores de língua portuguesa. Zero-quilômetro: de zero, do italiano zero, contração de zefiro, radicado no latim zephirum, e no árabe sifr, cifra, e quilômetro, do grego chilioi, mil, e métron, medida. Designa veículos novos, que ainda não rodaram, em especial carros e motos, em oposição a seminovos e usados. Paradoxalmente, não existem os "semivelhos", já que o vocábulo nasceu a partir do adjetivo "novo" e não do "usado" ou "velho".
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