Apoteose: do grego apothéosis, pelo latim apotheosis, apoteose, deificação, pela formação grega apo, separado, derivado de, e théos, deus, divindade, étimo que está presente em teologia (estudo de Deus), ateísmo (sem deus, pois o "a" inicial indica negação), monoteísmo (um deus apenas) e politeísmo (muitos deuses). No latim, apotheosis designava o ato final de endeusar o imperador após sua morte, em cerimônia de grande pompa. Caio Júlio César (100-44 a.C.) foi o primeiro a receber honras de apoteose. No português, veio a designar a última cena de um espetáculo. As cenas finais daquele que é considerado "o maior espetáculo da Terra", o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, ocorrem na Praça da Apoteose, parte derradeira do Sambódromo, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer (101), que disse de sua arquitetura, referencial em todo o mundo: "Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein".
Capela: do latim cappella, pequena capa, diminutico de cappa, capa. Passou a designar o oratório construído para venerar São Martinho (316-397) e depois disso qualquer igreja pequena, no lugar em que ele deu metade de sua capa a um pobre que passava frio. No latim medieval, cappella tornou-se sinônimo de pequena igreja ou ermida, do grego éremos, lugar deserto, solitário, onde vive o eremita. Capela é uma das divisões da paróquia, do grego paroikhía, sede estrangeira de uma dioíkesis, diocese, sede da administração eclesiástica onde estava o episcopus, bispo, a maior autoridade da Igreja.
Eunuco: do grego eunoûkhos, guardião da cama, guardião de mulheres, palavra formada a partir de euné, cama, leito, e o verbo ékho, levar, conduzir, guiar, tendo ainda os significados de prender, governar. Chegou ao português pelo latim eunuchus. Foi o eunuco chinês Cai Lun (50-121) quem inventou o papel, no ano 105. Os eunucos estão presentes em narrativas árabes, servindo a odaliscas, confinadas no harém do sultão, que em geral tem quatro esposas, mas às vezes mais. Havia dois tipos de castração para os antigos eunucos: a orquideotomia e a panectomia. Na primeira, eram extirpados só os testículos, que em grego é órchis, o mesmo étimo de orquídea, planta de rara beleza, assim designada porque seus bulbos semelham testículos; na segunda, é extirpado o pênis. Já entre os antigos sumérios, por volta do século XXI a.C., havia o costume de tornar eunucos alguns criados domésticos que trabalhavam nas residências, com a finalidade de preservar a castidade das mulheres.
Sêmen: do latim semen, semente, germe, causa, origem. A palavra seminário, onde antigamente eram preparados durante cerca de 14 anos meninos que um dia seriam ordenados padres, tem o mesmo étimo, em razão de ser concebido como viveiro para a criação de adolescentes destinados ao sacerdócio. O latim semen equivale ao grego sperma, semente, de onde provêm as palavras esperma e espermatozoide, observado pela primeira vez por um aluno do holandês Anton van Leeuwenhoek (1632-1723), comerciante de tecidos e cientista autodidata que construiu microscópios para estudar protozoários, bactérias e seres minúsculos, hoje pesquisados pela microbiologia.
Valido: de valer, do latim valere, ter saúde, ser forte. Passou a designar quem é amparado, favorecido, socorrido, que tem proteção de alguém. Aparece neste trecho de A Manilha e o Libambo: a África e a Escravidão, de 1500 a 1700, do poeta paulistano, diplomata e conhecedor da cultura africana Alberto Vasconcellos da Costa e Silva (78): "Fez-se seu valido e foi por ele mandado, com mais gente sua, servir na capital do império...". O livro é resultado de extraordinário trabalho de pesquisa sobre a escravidão de diversas etnias africanas. Ele é autor de várias outras obras sobre o tema, como o clássico A Enxada e a Lança, com destaque para o papel político das instituições escravistas e o processo de desumanização dos escravos negros por parte dos árabes islamizados, e a consequente descaracterização de muitas sociedades tradicionais africanas diante da expansão do Islã.