Acumulada: de acumulado, do latim accumulatus, particípio de accumulare, acrescentar, amontoar. Tornou-se substantivo feminino no português, designando no turfe "sistema de aposta que consiste em acumular, num mesmo jogo, cavalos de vários páreos e no qual o capital empatado se vai multiplicando, caso os animais escolhidos vençam em cada um deles", como define o dicionário Houaiss. Das apostas em corridas de cavalos, migrou para a loteria.
Estampido: do espanhol estampido, ruído forte e seco, do occitânico antigo estampida, derivada de estampir, retumbar, verbo radicado no gótico stampjan, bater, pisar, malhar. Aparece no livro Futuro Presente: Dezoito Ficções sobre o Futuro (Editora Record), organizado por Nelson de Oliveira (43), num texto de Rinaldo de Fernandes (49), escritor maranhense, grande revelação da literatura
brasileira contemporânea com os livros Rita no Pomar, Contos Cruéis e O Perfume de Roberta: "É no momento em que alcanço a calçada do bar, é neste exato momento que ouço o estampido, momento que ouço o estampido, o seco estampido, o baque fundo de uma porta se fechando".
Legado: do latim legatus, legado, particípio do verbo legare, deixar, doar algo em testamento, sendo do mesmo étimo do latim lex, lei, pois é parte essencial do ordenamento jurídico que rege a vida social, em especial no intrincado terreno das heranças. Designa determinação ou última vontade que uma pessoa manifesta no testamento de deixar a alguém coisas, valores, terras, casas, propriedades ou
demais itens que integram um patrimônio do qual o testador pode dispor. A escritora e professora Sabine Cabral Marins Nolasco (39) tem um conto com o título de Legado, narrativa curta muito bem escrita, repleta de sagazes observações feitas num velório e num enterro, presente no livro Coletânea (Edição da Prefeitura Municipal de Niterói), no qual diz: "Uma parte do meu subconsciente não acreditava que um homem poderoso, respeitado, que saiu da pobreza e fez fortuna, parou de respirar, parou de comandar, deixou de ser o chefe daquela família".
Mulherão: de mulher, do latim muliere, declinação de mulier, designando a mulher casada, a esposa, em oposição a virgo, virgem, moça. Mulherão ou mulheraça, com os acréscimos de "ão" e "aça" indicando mulher de tamanho avantajado, mudou de sentido e passou a denominar a mulher bonita e atraente. Na recuperação do sentido de mulher que contraria os antigos preconceitos foi muito importante a contribuição de personagens como a Mulher Maravilha, Diana Prince, que "aos três anos, arrancava árvores do solo e, aos cinco, ganhava corrida das gazelas", como observa Marcelo Duarte (34) em O Guia dos Curiosinhos: Super-Heróis.
Quina: do latim clássico quina, série de cinco números, que no latim vulgar era designado por quinque, cinco, étimo presente na formação de diversas palavras portuguesas, como quinquênio, quinquenal, quinquagésimo, quinta-feira e quíntuplo. Designa ainda modalidade de loteria em que ganha aquele que acerta um total de cinco números. O dicionário Houaiss abona o vocábulo assim: "No (sic) loto ou na víspora, série de cinco números na mesma linha". Mas, no verbete loto, acerta o gênero: "Loto: substantivo feminino, modalidade de loteria, como a quina, a sena etc., que premia o apostador que acertar um total de números estipulados". Se é feminino, a pessoa acerta na loto e não no loto. Já a palavra quinhão, do latim quinione, declinação de quinio, reunião de cinco, mudou de significado, designando não mais a quinta parte de alguma coisa, mas a quantia que cabe a cada um na divisão de um todo. Em março, lia-se nos anais da Câmara: "O relator da proposta, Deputado Fernando Coelho Filho (PSB-PE), afirmou que é 'público e notório' que, na maioria dos casos, milhares de famílias recebem seu quinhão em assentamentos provenientes de reforma agrária sem as condições ideais de habitabilidade e produtividade porque a infraestrutura é inexistente ou muito deficiente". Quinhão, como se vê, não era a quinta parte da área, era a parte que cabia a uma das famílias ali assentadas.
Sena: do latim clássico sena, série de seis números, que no latim vulgar era designado por sex, seis, étimo presente na formação de palavras como sexteto, sexagenário, sexagésima, sexta-feira, sextavado e sêxtuplo. Na loto, designa modalidade em que se sorteiam seis dezenas, ganhando quem acertar a sena principal (o prêmio maior é formado por todas as seis dezenas jogadas) e as chamadas sena posterior (as seis dezenas imediatamente acima das da sena principal) e sena anterior (as seis dezenas imediatamente abaixo das da sena principal), a quina (cinco das seis dezenas) e a quadra (quatro das seis dezenas).
por Deonísio da Silva*