ETIMOLOGIA

por <b>Deonísio da Silva</b>* Publicado em 04/08/2009, às 16h32

Caçador: do particípio de caçar, do latim vulgar captiare (pronuncia-se "capciare") - no latim culto é captar, seguido do sufixo "or", indicativo de ofício, como em cantor, jogador, professor, designando quem se dedica à caça de animais e pássaros. Dá nome a município catarinense que detém o recorde de temperatura mínima no Brasil: 14 graus abaixo de zero em 1975. A denominação procede do Rio Caçador, assim chamado pela abundância de caça nas margens. No brasão do município, simbolizando a fauna, há oito perdizes. E aparece em título de livro da escritora americana Carson McCullers (1917-1967), O Coração É um Caçador Solitário, marcado por referências do inconsciente, concebidas à luz de Sigmund Freud (1856-1939), fundador da Psicanálise. Já o caçador propriamente dito, sobretudo de passarinhos, é alvo preferencial do Ibama em todo o Brasil, de que é exemplo a pena aplicada ao senhor que, dois dias após o Natal de 2005, pegava passarinhos silvestres em Taboão da Serra (SP), como sempre fizeram seus ancestrais e vizinhos. Em julho, ele procurou os serviços do Departamento Jurídico do Centro Acadêmico XI de Agôsto, da Faculdade de Direito da USP, em São Paulo, que presta assistência judiciária gratuita. Tinha sido condenado, mas ninguém o procurou para aplicar-lhe a pena de prestar serviços à comunidade por seis meses. Desconhecendo que houvesse também pena pecuniária, foi surpreendido com a intimação de pagar 13844,80 reais por ter apreendido as aves. Paradoxalmente, pune-se com mais rigor um caçador de pássaros do que assassinos confessos ou ladrões do dinheiro público. Engulho: de origem controversa, talvez do latim vulgar serangulium, ligado ao verbo strangulare estrangular, sufocar, que influenciou o português antigo estrangulho , obstrução da garganta do cavalo. Veio a designar sensação de enjoo, náusea, mal-estar. E, por metáfora, passou a ser aplicado a pessoa a ser evitada, de fala e gestos desagradáveis, não apenas pelo que diz e faz, mas também pelo modo como se comporta. Mirmidão: do grego myrmidón, pelo latim myrmidon, designando povo do Sul da Tessália, na antiga Grécia, onde teriam sido recrutados os lendários soldados liderados por Aquiles na Guerra de Tróia. Passou a qualificar, como adjetivo, o subordinado fiel, que cumpre todas as ordens sem questioná-las, e, depois, como substantivo, o ajudante de cozinha. O étimo grego do nome é myrmex, formiga. Uma terrível peste assolara a Ilha de Egina, governada pelo rei Éaco, e matara tanto animais quanto homens. Desolado, o soberano pediu ajuda a Júpiter, enquanto contemplava uma multidão de formigas que, disciplinadas, caminhavam sobre a casca de um frondoso carvalho, levando cada uma delas diminutos grãos à boca: "Dá-me, pai, cidadãos tão numerosos quantos estas formigas para encher a cidade vazia". O pedido foi atendido: uma multidão de jovens surgiu após um sonho que o rei teve e, ajoelhados, saudaram-no como súditos leais. Mirmidão designa também o seguidor de chefe político. Orfeão: do francês orphéon, orfeão, instrumento de música e também sociedade, clube ou agremiação dedicados ao canto coral, originalmente executado apenas por cantores masculinos e depois por coros mistos. A origem remota é Orfeu, filho de Apolo e de Calíope, que recebeu do pai uma lira e aprendeu a tocar com tal perfeição que, não somente homens e animais se aproximavam dele para ouvi-lo tocar e cantar, mas também árvores e rochas, que perdiam a dureza, amaciadas pela suavidade de sua lira. No seu casamento com Eurídice, a tocha de Himeneu fumegou, fazendo com que os noivos lacrimejassem, o que não era augúrio favorável. De fato, o pastor Aristeu apaixonou-se por ela, que, ao fugir do assédio, pisou numa cobra, que a matou com poderoso veneno. Portamento: do italiano portamento, portamento, modo de portar-se, radicado em portar, do latim portare. Em música designa mudança da voz que, ao longo de intervalo, geralmente ascendente, passa célere por todas as notas. Seu sinônimo é glissando, do italiano glissando, radicado no verbo glissare, escorregar, deslizar, resvalar. Samurai: do japonês samurai, guerreiro, ligado ao verbo samurau, estar a serviço de alguém. No começo do segundo milênio, os samurais eram encarregados da guarda do palácio imperial. Esta casta de guerreiros especializados estava também a serviço dos daimiôs, nobres que, por delegação do imperador, eram responsáveis pelo governo de um território. Da Idade Média ao século XIX, os samurais criaram um rígido código de conduta que incluía o suicídio em caso de fracasso nos objetivos.
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